A impressão 3D tem limite?

A impressão 3D tem limite?

Sthefano Cruvinel
Sthefano Cruvinel
Tecnologia
15 Abr 2025
A impressão 3D tem limite?

O que você faria em seis horas? Muitas coisas, seria a resposta. Mas construir uma estação de trem nesse mesmo tempo seria uma façanha impossível de realizar, certo? Errado! É que a West Japan Railway Company acaba de construir a primeira estação de trem para embarque e desembarque de passageiros impressa em 3D, façanha realizada no fim de março deste ano na cidade de Arida, montando-a em menos de seis horas.

Segundo o jornal The New York Times, trabalhadores japoneses construíram a estação durante uma madrugada apenas, substituindo uma estrutura anterior de madeira que, por 75 anos, atendeu passageiros da comunidade de Arida. Os componentes da nova estação, denominada Hatsushima, foram impressos em 3D em outro local durante sete dias e, depois, transportados até o ponto de funcionamento definitivo. A obra foi iniciada após a passagem do último trem e ficou pronta para operação antes de o primeiro trem do dia seguinte iniciar a jornada.

A estação é feita de uma argamassa especial e possui cerca de 2,6 metros de altura e área de aproximadamente 10 metros quadrados, de acordo com dados da West Japan Railway Company, grupo de companhias ferroviárias responsável pela obra, que tem início de funcionamento previsto para julho deste ano. Se a estação fosse feita de maneira tradicional — sem uso da impressora 3D —, iria demorar mais de dois meses para ficar pronta e teria custado o dobro do orçamento.

Diante desse feito ocorrido no Japão, e embora a impressão 3D não seja necessariamente nova, ainda há quem se pergunte: o que é essa tecnologia e como funciona? Qual seria a sua capacidade?

Basicamente, partimos do seguinte pressuposto: uma impressora nada mais é que um dispositivo que transforma documentos digitais em cópias físicas, ou seja, um periférico de saída que permite imprimir textos, gráficos, fotos e outros materiais.

No caso, a impressão 3D utiliza equipamentos especializados para criar objetos sólidos e tridimensionais a partir de um arquivo digital. A prática existe desde a década de 1980, quando Charles W. Hull inventou o processo e criou a primeira peça impressa em 3D. Desde então, o campo da impressão 3D cresceu exponencialmente e oferece inúmeras possibilidades.

Num conceito mais técnico, esse tipo de impressão é um processo que usa design auxiliado por computador, ou CAD, para criar objetos camada por camada, sendo comumente usada nas indústrias de manufatura e automotiva, onde ferramentas e peças são feitas usando impressoras 3D.

Uma curiosidade é que, à medida que a capacidade da impressão 3D cresce, o seu valor também aumenta. Estima-se que, até 2029, a indústria de impressão 3D alcance o valor de 84 bilhões de dólares. Esse crescimento indica que, certamente, iremos interagir com produtos — e até mesmo casas e edifícios — feitos com impressão 3D, como ocorreu na cidade japonesa de Arida com a construção da estação de trem a partir dessa tecnologia.

Mas abro aqui um espaço para falar de saúde. A impressão 3D também está revolucionando esse setor. Quem não se lembra da pandemia da Covid-19, que, em 2020, sobrecarregou hospitais e aumentou a necessidade de equipamentos de proteção individual? Muitas unidades de saúde recorreram à impressão 3D para fornecer aos seus funcionários os equipamentos de proteção essenciais, bem como as peças para consertar seus ventiladores. Grandes corporações, startups e até mesmo estudantes do ensino médio com impressoras 3D se uniram e atenderam ao chamado. A impressão 3D não apenas mudará a forma como fabricamos EPIs e equipamentos médicos, mas também otimizará próteses e implantes.

“Além disso, a importância das impressoras 3D deve aumentar ainda mais nestes próximos anos. Já existem casos relatados da criação de próteses em centros de pesquisas mais avançados pelo mundo, mas fato é que poderemos ver, muito em breve, órgãos funcionais para pessoas que aguardam transplantes sendo criados por meio dessa tecnologia. Em vez do processo tradicional de doação de órgãos, médicos e engenheiros estão se unindo para desenvolver a próxima onda de tecnologia médica que pode criar corações, rins e fígados do zero. Nesse processo, os órgãos são primeiro modelados em 3D usando as especificações exatas do corpo do receptor e, em seguida, uma combinação de células vivas e gel de polímero (mais conhecido como biotinta) é impressa camada por camada para criar um órgão humano vivo.” Essa tecnologia inovadora tem o potencial de mudar a indústria médica como a conhecemos e reduzir drasticamente o número de pacientes na lista de espera de transplantes de órgãos.

Por falar em próteses, mais que componentes para máquinas cirúrgicas, máscaras N95 e ventiladores, talvez o mais impressionante seja que a tecnologia de impressão 3D já acelerou a produção e a durabilidade de próteses, reduzindo custos, como a GE Additive, empresa especializada em impressões 3D, que produziu mais de 10 mil próteses de quadril por meio da impressão 3D entre 2007 e 2018.

Mas acredito que a construção da estação de trem no Japão tenha causado espanto, a ponto de virar notícia no New York Times, muito por causa do tempo gasto e do local de grande movimento onde a obra foi realizada — em menos de seis horas —, pois a construção de casas em 3D já acontece desde 2019. Desde a década passada, já temos notícias de organizações sem fins lucrativos e cidades do mundo todo que estão recorrendo à impressão 3D para solucionar a crise global dos sem-teto. Por exemplo, a New Story, uma organização americana sem fins lucrativos dedicada a criar melhores condições de vida, construiu a primeira comunidade impressa em 3D no México. Com o uso de uma impressora de 10 metros de comprimento, a New Story conseguiu produzir uma casa de 46 metros quadrados, completa com paredes, janelas e dois quartos, em apenas 24 horas. Até o momento, essa ONG já criou minibairros residenciais impressos em 3D no México, Haiti, El Salvador e Bolívia, com mais de 2 mil casas sendo 100% impressas em 3D. E aqui estou me referindo apenas ao trabalho da New Story.

Enfim, voltando ao setor da saúde, que muito importa, em um futuro próximo, teremos impressoras 3D criando órgãos funcionais para pessoas que aguardam por transplantes. Em vez do processo tradicional de doação de órgãos, médicos e engenheiros estão se unindo para desenvolver a próxima onda de tecnologia médica que pode criar corações, rins e fígados do zero.

Fonte: Jornal Correio de Uberlândia

Gostou desse conteúdo? Acompanhe o portal ou as nossas redes sociais.

Receba meus lançamentos e novidades em sua caixa de mensagens ou via whatsApp.

siga meu instagram